terça-feira, 23 de janeiro de 2007

O futebol na era da globalização

Os brasileiros nascem, crescem e morrem torcendo por um time de futebol. Os paulistas torcem para Santos, Corinthians, Palmeiras ou São Paulo; os cariocas, para Flamengo, Fluminense, Vasco ou Botafogo; os gaúchos para Inter ou Grêmio... Todo brasileiro já nasce no meio do futebol. O tio vai dar uma camiseta do Corinthians e a mãe, palmeirense, não vai gostar. Mas o avô é são-paulino e o pai é santista. E aí? A primeira decisão importante na vida de um brasileiro é a escolha do time do coração. Muitas vezes há uma influência, outras vezes a criança vira a casaca e ignora o time do coração do pai. A paixão começa a aflorar e mais um torcedor fanático está formado.

Esta paixão que arranca lágrimas de alegria e dor, que traz felicidade e tristeza, que gera comoção e êxtase, decepção e sofrimento, remonta ao começo do século. Nossos ancestrais já vibravam e choravam por causa do nobre esporte bretão.

Privilegiados, nossos pais e avós viram um esporte que ainda não era um negócio. Viram atletas jogarem por amor. Viram jogadores comerem a bola por décadas a fio no mesmo time. O salário não era dos melhores, mas mesmo assim rejeitavam-se propostas de clubes europeus. Preferiam ver um estádio lotado (muito comum naquela época) vibrando com o time do coração.

Os jogadores se identificavam com o clube e lá ficavam. Gostavam de ganhar muitos títulos por um mesmo clube, gostavam de serem idolatrados pela torcida. Pelé jogou quase duas décadas no Santos, Ademir da Guia fez sua carreira no Palmeiras e Rivellino, apesar de não ter ganhado títulos, foi o grande ídolo do Corinthians por muitos e muitos anos. O futebol era amador, no sentido literal da palavra.

Chegaram os anos 90. Os salários foram ficando cada vez maiores e os jogadores já não ficavam tanto tempo no mesmo clube. Agora, os europeus já não poupavam mais dinheiro e nossos melhores atletas foram ganhar muito, mas muito dinheiro no Velho Continente. O futebol se tornou um negócio extremamente lucrativo para personagens nefastos que não existiam antes: os empresários.

As transações milionárias se tornaram muito freqüentes. Se por um lado, isso fez com que nossos melhores atletas fossem para o exterior, abriu espaço para uma renovação sem precedentes no futebol brasileiro. A cada ano surgem craques que depois de uma ou duas temporadas (justamente quando o futebol está amadurecendo) vão embora.

A renda dos clubes vem, principalmente, destas transações. Outra fonte importante é o dinheiro que vem das TV, mais importante que a renda de bilheteria. Talvez por isso os estádios vivam às moscas e a renda da bilheteria seja irrisória.

O abismo entre o futebol sul-americano e europeu é incrível. Os brasileiros e argentinos são os melhores e vão brilhar na Europa. As ligas de lá são repletas de craques, mas esta realidade faz com que surjam poucas revelações européias. Por exemplo: como é que uma jovem revelação do Real Madrid irá cavar seu espaço num time com tantas estrelas internacionais?

O negócio da bola é diferente por lá. Os europeus não precisam vender craques para sustentar o clube. Ao contrário, eles compram craques com dinheiro que vem de bilheteria e venda de produtos licenciados. É o capitalismo do futebol: os subdesenvolvidos são privados de ver seus craques em campo.

As conseqüências desta nova ordem do futebol podem ser vistas nas ruas. Hoje, as crianças vestem camisetas do Real Madrid, Barcelona e Milan. Se continuar deste jeito, daqui a pouco elas já nascem torcendo para um time estrangeiro.

Um comentário:

Rafael Boro disse...

Bom tema!!! Eu me preoucupo com a geração atual. Eles não tem o mesmo amor que nossos avós, pais e nós mesmos. A mídia valoriza mais o futebol europeu do que o brasileiro.